E então, José?
E então, José? O que vai ser da tua vida?
Quem pode perdoar as tuas falhas e ignorar os teus pecados? Agora podes chorar, queres gritar, pensas se foges ou compra a briga da tua alma. Hoje é o primeiro dia do resto da tua vida. Queres uma vida regalada ao lado de tua Lia, ou queres passar junto de tua Maria?
E então, José, o que vai ser agora? Mentes para mim, para mim mesmo e para a tua parentela. Vai, José, entra no teu inferno, vede onde te perdeste e onde a tua mentira te consumia.
E agora, José? Medes o tempo com um caniço. Meça e peça que se abrevie um dia. Quem lê os teus olhos como ela? Quem pode, José, como a tua lia? Queres a vida que tens, que podes ter, sabes que não é tua a prenda, fugidia. Não podes, José. Contente-se com a tua lida.
E agora, José? O pano vai fechar o palco, as luzes vão se apagar, o artista volta a ser um filho de Deus, criatura errante, vida conturbada, tuas dívidas, teus pecados, e então, José, é a vida, assim mesmo, como ela é, quem pode te perdoar e ignorar os teus delitos e te fazer sonhar, que tudo não passe de um sonho, José. Teu filho na rua, com fome, com frio, com faltas que tu não podes suprir. Sofra, José, sofra tu, porque mentia....
E então, José? Repondes-me! E agora, José? Tua língua secou? Tua boca cessou de lamuriar? Fala, grita bem alto, José. Ninguém pode te ouvir. Tuas lágrimas não matarão a sede de tua justiça. José, José. Pense bem, José. A vida não tem marcha-a-ré. Na próxima esquina o mundo brecará. Será a tua vez de saltar e então, José... lamuria.
Enfim, José, quisestes o ouro do tolo, te fizeste de bobo, mudastes teu rumo, tua crença, mas teus sonhos, há muito te acompanham e tu não cansastes de sonhar, tu não te cansas, José? Teus dias passam, o enfado chega e tu só amas, para olhar para traz e ver e dizer que amastes sempre, de todas as formas e que fostes amado por quase todas! E Lia? E Maria? E aquela que tu dizia? E aquela que morria? Até aquela??? Quem diria, heim, José? Do resto de tua vida, hoje é o primeiro dia.
José, pobre José. Pensou que era eterno, mas ninguém é eterno! A não ser o próprio Eterno...
Compraste a briga da tua alma? Que dilema!! Quimeras, José, tudo é vaidade. Sonhos, todos os teus são quimeras. Quiseste o paraíso, terás um purgatório, se te acostumas, é teu o inferno, sem sala, sem som ambiente, sem banho de águas quentes. Toma, José, teus sonhos num saco de pandora e morre. Tu não te cansas, José? Vede o tartamantria!?!
Pois é, José! A noite chegou e trouxe tuas fobias e não te intimidou. Tu chegas em casa, vê tua Maria, de pele clara, tu a amas? Tu a amaste? Tu, José, isso é muito importante, tu a amaria? Tens aí a que escolhestes. Não podes voltar atrás. Tens amor por Maria? Tens amor por quem, José? O que é o amor? Como tu o definiria?
E então, José, outra noite se foi. Deixastes o vento levar a tua festa com tua Lia e tudo que ela representa de bom, tudo o que tu não podes ter, que queres ter, que terás com tua Lia, José. O perfume de Lia inebria-te, o vértice do prazer dela extasiaste a ti como se o êxtase pudesse ser eterno e ninguém é eterno, somente o Próprio Eterno, e tu não sereis. Quem pode perdoar a tua falha e ignorar os delitos que sobrepujam a tua carne? Quem perdoaria?
E então, José? O que vai ser da tua vida? O que vai ser agora? E agora, José? E então, José? Repondes-me! E agora? Fizeste-te de bobo, José, pobre José. Pois é, José! (aguardando resposta...).
Por Paulo Siuves