Do querer
Não sei o que tens
sob este manto pesado
que abarca meu silêncio;
sei que há dor, fardo
circunstância, tempo,
edifício, dissabor.
E pra ajudar,
nossa persistência
pode dar em suplício...
Mesmo assim, me tens
saudosa e fervorosa,
teimosa que sou...
Sempre imagino o que fazes
pra manter tua fronte
tão constante...
Às vezes pergunto-me:
será que me tens por louca,
exagerada, será que me vês
tal qual ninfa enclausurada?
ou te deleitas em segredo
observando sem medo
a bacante em efervescência
perdendo as estribeiras
no ímpeto de expressar
um sempre expresso?
Não sei o que veleja
sob esse olhar impassível
que foge se toma forma.
Não sei o que tens, dionisíaco,
mas até Morpheus te aprova...
Não deixo de concluir sumariamente
que te quero em meio ao absurdo,
abertamente, em múltiplos,
consciente e inconscientemente
mesmo quando te ausentas
austero...