NO FUNDO DO POÇO
Louco para ficar louco
Sair da rotina da cidade
Entrar no submundo do poço
E nadar com liberdade
Sorrir mesmo se afogando
Com lama pelo esôfago
E quando ouvir todos gritando
Se acabrunhar ficar tosco
Não se arrepender jamais
De tudo que não se fez
Ter perdido toda a paz
A dignidade e a avidez
Louco por ter sido louco
Não ter percebido nem um pouco
Que a loucura era a vez
A vez de ficar rico
E não ter pena nem um tico
Do pobre que não se fez
Louco por ter sido louco
Em não ter percebido
Que um pobre pra ficar rico
Tem que ser doido de pedra
E a vida não lhe dá trégua
Não lhe dá regra nem sensatez
Louco por saber que tinha que ser louco
Mas enfim feliz por não ter conseguido
Deixou a grosseria e ouviu o grito do povo
Que lhe tirou do fundo do poço ferido
Mas não arrependido