Loucura dos dias
Acordei na segunda,
com a cara funda, a roupa suja,
a pele imunda.
Desandei nos meus atos e
pensei como nunca na noite passada
em que com muita coragem cutuquei
uma onça com vara curta.
Foi um Blefe na terça,
tirando a certeza da pouca beleza,
que não me trouxe riqueza e nem
enche minha mesa.
O frio me mata,
e no cansaço da quarta é
quem me faz ser assim.
Eu andei na madruga com a
calça rasgada, com a boca rachada,
batucando na lata, que em todo o trajeto
não sorriu pra mim.
Já na quinta lambida, eu chamei a Jacinta,
que não canta nem pinta,
mas tirou-me daqui.
Na sexta fui homem,
pensando na besta do vizinho aloprado,
que antes do galo, começou a latir.
Gaguejei em silêncio, ensaiei o desabafo
de um pobre coitado, que perante o
latido esqueceu-se de si.