Máscara: Esconderijo de quem sou
Suave, sol, manhã,
Longos tragos angelicais,
Terra, fogo, ar, água,
Alimentos, elementais,
Mentais, olhos,
Menina, mulher.
Se de pele vivo,
De anseios, sonhos: vivo,
Dores, solidão que se repete,
Máscara: esconderijo de quem sou.
Na santidade de meus desejos, a carne,
Paraíso e inferno de meus dias,
Em mim, há paixão,
Há máscara, toque suave do quase desejo,
Máscara: esconderijo de quem sou.
Escondo-me, escondo-me, escondo-me,
Em sorrisos e tentações,
Nas dores da solidão de dias,
Cuja companhia apenas se faz sutil desejo,
Meu escudo me protege,
Máscara: esconderijo de quem sou.
Mate a carne que se corta,
A dor que se sente,
Rasgando a fome ao meio,
Teimosa fome que se queima e anseia,
Antes da pele, a epiderme, os desejos,
O arrepio, o frio, o calor,
Cegueira, olhos abertos,
Urticaria interna de toques às cegas,
O silêncio de minh’alma, o alento,
Máscara: esconderijo de quem sou.
Anjo de dois lados opostos,
Que atormentam, mentem e ardem,
De menina à mulher, um instante,
Na mulher, a menina, ofegante,
Flutua o coração flutuante,
De ambiguidades e dualidades,
No mar de lágrimas, do doce ao amargo, solidão,
Máscara: esconderijo de quem sou.
Geme, geme, geme,
Gritas em silêncio para que te ouçam,
Ouçam de teus ossos, a carne, o grito,
Nele, teus anseios e gritos,
Da gentileza das cordas que te amarram,
Do pingar das velas quentes, tua pele,
Do suavizar do gelo nos seios dos anseios,
Da mão gentil que mais te aperta,
Daquele que, entre os dedos, te liberta!
Máscara: esconderijo de quem sou.
A solidão é almirante louco,
Naufragando no mar doce de tua pele,
No mar doce do sorriso teu,
Nas águas da ingênua menina-mulher,
Tens a forma, simples pingo d’água,
Que transborda, molha, molha, molha,
Pingos que se saboreiam de colher em colher,
O desejo de feminino, mulher,
Nela, meu escudo, meus desejos,
De mim, o reflexo de águas mornas,
Mornas,
Na máscara do esconderijo de quem sou.