PELE DE TUA PELE
Todos os dias no púlpito de teu peito palpito
Me vaso dilato me deleito
Não me deste um longo adeus
Fostes breve em seu farol pra me alumiar
Sou como pescador sem o mar
O amor sem o corpo pra se amar
Todos os dias são suicidas sem teu corpo a me cortejar
Todos os dias são cheios de vazios
Quem parte também deixa sua parte ausente
Porque também levam parte da gente e não podem voltar de seu volitar
Assim como nós vamos presos dentro deles e não podemos nos libertar
Todos os dias se parem e tantas coisas se separam
Hoje só namoro a amada
Na morada de minha casa... O coração!
Amar transcende a precisão do eterno
A minha amada é uma eterna namorada em procissão
Fazer amor contigo eu quero te preciso sem estagnação
Aliás façamos amor como as borboletas
Que trocam essências como espoletas
Em pleno ar espalhando polens de purpurinas em piruetas
Seja no verão outono ou inverno voamos nas letras
O sol se deita nos seus raios desmaiando nas campinas
O sol manda recados do Pai maior pelos vãos das esquinas
Mais te quero junto de mim como as rosas do meu jardim que me ensina
Você se faz florada quando não há nada para divertir as fadas
És o adubo da minha vida és o pulsar das minhas veias
Sou este anjo que sabe descer as escadas do teu vazio
E alcalinizar a acidez de teu cio!
Na realidade me dás o tom exato de seguir a vida sonhando
E o melhor do amor é o proveito que temos de continuar nos amando
Vem! Escuta não há silencio ele não existe...
Até o silencio a gente escuta baixinho mais escuta
E quando dormimos o silencio é um sonho uma minuta...
O sonho é o silencio que transborda
E escapa como água descendo a gruta
Como fumaça que sai pela descarga envenenada
Como o vento do convento que move a biruta
O tempo que tenho pra te dar
É somente uma vida pra te amar
O peso das horas sem te ver
Deixa minha alma vazia a se elastecer
Somos o que não sabemos
Como pétalas lacrimais da flor que ao solo perfuma
Só temos o que doamos por amor e tudo o mais se arruma
Teus olhos faceiros e envolventes são delicadas teias de aranha
E a eles me entrego qual inseto que ao se entregar se engana
Sem você o espírito da noite me assusta
Sem você as estrelas são carrancas que no céu se incrusta
Meu amor por você é como o mar não pode ser dosado
Só pode ser sentido se nele mergulhado
Quem disse que a morte é uma mulher com a foice na mão
Será que não é um homem vindo pela contramão
Se a morte é rei ou rainha
Só saberemos quando sua foice desembainha
Oh! Senhor ou senhora morte
Por favor, não me tente no seu repente
Pois que da vida sou repetente...
O mar é o edredom da terra
É a coberta de Deus onde tudo começa e onde tudo se encerra
Não sabemos perder o que não temos
Perder é uma mutilação
E convivemos com o não uma vida inteira
E não há palavra mais feia que a negação...
Seja com folhas caindo ou com sol amarelo
Te espero pra sempre no céu das manhãs clarinhas
Onde o pássaro do amor se aninha
Ou até mesmo no crepuscular ardor do inferno...
Só sei que hoje para sempre te espero...
Eu te amo tanto que me falta o ar
Sem você meu mundo está a me sufocar
Perco o meu lugar
Você está onde estou
Você está mais em mim do que eu sou
Acho que devo karmicamente algo pra você
Seus olhos são minhas prisões
Não preciso das chaves
Sou ave e voo nas tuas constelações
Pra onde vou você está no céu impressa
E sempre regressando és o tempo que falta na minha pressa
Tu és tudo tanto mais que eu não posso suportar
Tua ausência trás saudade de mim em tu como semente em terra fértil
És o til de minha contração
Sem você sou ávido mesmo ser ter havido
Sou morto sem ter morrido
Vivo sem ter vivido
Meu sangue sinto fervilhando
Como as amalgamas presas do Vesúvio
Sem você sou ruas sem direção
Caminho sem saber aonde chegar
Seja num beco na beira da calçada ou num bar
Ouço vozes no meu interior sinto um frio na espinha
Nas linhas do meu destino não tem começo nem fim
É como se faltassem os filtros de meu rim
Infelizmente somos humanos e erramos
Será que o beijo da morte é forte
Ou suave como a de uma boca carnuda
Tudo transcende ao entendimento tudo zera tudo muda
A saudade tem vida muito longa como uma noite perdida
É como se Deus não tivesse os secretários serafins
Sem você o espelho é o assassino de minha vaidade
A luz tênue do abajur da sala hoje não acendeu
Não consegue refletir a saudade que morreu dentro de ti
E roubou de mim o meu eu.