OS ANJOS DECAÍDOS
Não seguimos os caminhos que indicam a seta
Não há maior loucura que ser poeta...
A noite é negra nos jardins sem estrelas
Orações são fios de ouro escorrendo pela fresta adentro
Não há grades nos fétidos porões dos depravados
No abismo inominável onde só entra o inóspito
Tudo é proscrito e pestilento neste lodaçal grotesco
Urros e grunhidos no mais baixo vale da morte
Corpos se amotinam aos milhares
São desertores da vida quedando-se
Que ceifaram outros milhares
No beco estreito de suas delirantes maldades
Não entendem nada vagueiam como zumbis descerebrados
São vermes que rastejam na sinagoga de satanás
E continuam caindo vastidões e se amotinando
Balbuciam com babas pelo canto de suas horripilantes bocas
Muitos estão jogados uns por cima dos outros
No vale deplorável da sombra da morte a quietude é algo inexistente
Eles nunca descansam
Vivem em guerra seus movimentos são em círculos rotacionais
São pessoas cujo anjo da guarda os abandonou para sempre
Pois feriram o conceito maior de Deus
Sonegou-se do peito o perdão e agora exsudam pavor
Encrustece-lhes o fogo na carne e na mais abominável dor
Nem mesmo quem tem a chave de Davi adentra
O que abre, e ninguém fecha a fecha, e ninguém abre...
Há fumaças negras amorais morando em seus pulmões assassinos
Envenenaram-se pelo ódio e pelo rancor
Quais ratos grotescos nos porões do rancor
São serpentes cegas a vagarem rastejantes no interior imundo do limbo
Agora são párias que apodrecem e estagnam
Em seus inconscientes jamais limpos de suas memórias
Que fica passando como um filme repetidamente
As cenas de suas tragédias e o cheiro azotado do claustro sangue
O escárnio nos olhos dos inocentes
A quem a vida impiedosamente ceifaram da gente
Só há desespero nos olhos dos desesperançados decaídos
Todos são clandestinos da maldade e das atrocidades que cometeram
É um abismo muito profundo como uma ilha totalmente isolada da luz
É um planeta isolado inundado de vertigens
Mais eles não estão mortos não apenas padecem
Mais pensam latentes que estão e rodam em círculos
Sem saber o que e onde se encontram estão perdidos de si e do mundo
Tudo ali é atemporal e infestado de podridão
Vivem no reino onde a desgraça fez morada e desolação
Na verdade estão vivendo como zumbis
Sem lei e em círculos de bandos vagueiam sem direção
Por suas intermináveis lembranças sub-repticias e sem arrependimento
Em suas alucinações indeléveis e não adianta fugir não há para onde
Tudo é um charco abominável e abandonado
Um poço de covis misantropos e alucinados no mangue
Só pensam em se alimentar uns dos outros
Matam a sede na embriaguês do sangue
Há entre eles uma loucura infinda parasitária e sem digitais
Corpos se automutilam e o lugar é fétido e um cheiro pitiú no ar
Os homens quando matam se animalizam se seviciaram na morte
São espíritos sem esperança e sem justiça sempre na contra dança
Lugar do mais baixo umbral e alheios ao mundo da balança
Almas carcomidas e atrozes que retinem como um sino
De uma imensa igreja negra abandonada e todos vivem dentro dela
Como numa espécie de contêiner das mais bárbaras atrocidades
De vez em quando uma fresta de luz se abre num rasgo em suas mentes
E ficam aturdidos são as orações de familiares que lhes chegam
Através de uma tênue chama
Que lhes rasga ainda mais o peito mundano
Como um espelho em que se adentram
Num passado de memórias recentes e horas incertas
E quanto mais oram mais lhes rasgam a carne como sal na ferida aberta
Neste vale assombroso só entram os decaídos
As sementes da deformidade de árvores ocas e de frutos carcomidos
São vórtices de força contrários sem rumo e sem norte
Que vibram nos mistérios da senhora morte
E a supremacia do aborto cala no colo o ultimo som do suspiro
Em cujos corações viraram pedras frias e embrutecidas
Lá não existem as palavras amor e esperança são cães perdidos
Uns se consomem aos outros sem guardiões
Nem para os luciferianos servem como guarnições
Foram erros de aberrações quase abortivas humanas e que agora
Pagam pelas atrocidades macabras que fizeram
Banidos do universo como uma réstia de podridão
Num presídio fora do mapa da recordação
Um campo de concentração mórbida de infinitas enfermidades
O purgatório para eles é uma divina comédia pintada por Dante
Ao contrário dos que oram lá no vale dos esquecidos eles imploram
Para que não lhes orem
Pois são incalculáveis a dor horrorosa que sentem
Cada lagrima derramada uma saliva de fel ácida é formada
E é justamente por causa disso que lhes foi imputado este castigo
Quando uma palavra de luz lhes entra pela imaginária fresta
Rasga-lhes o resto das entranhas agourentas que de resto lhes resta
Não há maior dor para os vivos que a perda dos entes queridos
Mas na terra dos esquecidos o hálito não exala vida
A luz mínima é um sofrimento atroz e é terminantemente proibida
Para eles não há reencarnação só o padecimento sem partida
Assim acurados pelas inúmeras mortes horrendas que trazem na costa
Eles pagam com o tormento da vida porque não podem morrer
Morrer seria ultrapassar o entendimento delirante do que fizeram
É-lhes vedada a condição de descansar em paz
E ter seus corações ao alto
Portanto oremos e muito...
Ora pro nobis peccatoribus
Ora pro nobis peccatoribus
Ora pro nobis peccatoribus...