Entre a embriaguez e o delírio

Ele chegou em casa mais bêbado que o usual.

Bateu as portas, entrou em seu quarto.

Sentou-se na cama, sentindo-se mais solitário que de costume.

Quantas vezes mais aquilo ia se repetir?

Ele se perguntava enquanto descalçava os sapatos.

Desabotoou a camisa, jogou os óculos em cima de sua escrivaninha.

Procurou no escuro o seu telefone.

Desligou-o.

Não queria companhia,

Não queria ouvir ninguém.

Deitou-se.

deitou-se porque mal conseguia ficar em pé.

O mundo girava,

Girava numa velocidade que ele não estava acostumado.

Perguntou-se onde ela estaria.

Aquela... Diferente de todas as outras...

Aquele pensamento revirou-lhe o estômago.

Tentou afasta-lo de sua mente.

Pegou algo para ler, mas nada entrava em sua cabeça.

Zangou-se com seu estado,

jogou o livro no ventilador de teto,

blasfemou, gritou, acordou os vizinhos.

Era sexta feira santa e ele queria o demônio.

Não que fosse incrédulo,

Não que desprezasse as escrituras.

Mas ele não queria salvação.

Ele sentia-se como Macário, como Fausto.

Ele queria Satã e Mefistófeles para atormentá-lo,

queria descer aos infernos,

mas não queria aquela solidão.

Aquela solidão sim, era a desgraça que ele temia.

Bateram na porta.

Era o colega com quem dividia a casa, preocupado.

Pensou em fingir que dormia, mas por fim pediu-lhe que lhe deixasse em paz

o outro foi embora e assim finalmente pensou que poderia adormecer.

Mas o sono não vinha.

O sono nunca vem quando é conveniente.

O sono nunca vem antes do sol.

Pensou novamente...

onde ela estava?

Ela...

Onde estava ela,

e onde estava sua inspiração...

Onde estavam...

O que faziam

Ele não queria nada mais...

queria sentir,

queria poesia crua.

Nua e crua.

Ele queria vida,

queria completar-se...

Difícil dizer quantas horas ele permaneceu naquela situação.

Entre a embriaguez e o delírio.

Pensando numa mulher que não era mais do que fumaça no ar,

uma mulher que não era mais do que um pensamento,

sem forma, sem um rosto,

sem cheiro, sem cor,

sem nada.

Quantas vezes mais aquilo ia se repetir?

pensou, por fim, enquanto adormecia.

Rômulo Maciel de Moraes Filho
Enviado por Rômulo Maciel de Moraes Filho em 30/03/2013
Reeditado em 06/07/2013
Código do texto: T4215248
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