A Espera
Olhos estalados como dois ovos fritos
Saindo das órbitas
A imagem no espelho não releva a tempestade do teu pensamento
Não releva a tristeza de saber que estar ali é errado
Não diz o que você fez na noite passada
O corpo imóvel nem parece o mesmo
Que praticamente gritava há dois dias
Parece enfadonho, um quê de mormaço, de morfina, de ranço.
Rançoso também é o olhar a passear pelo quarto
Olhos vêem os sapatos de salto e bico fico jogados no canto
O vestido amontoado na cadeira
O cinzeiro sobre a cama repleto de bitucas de cigarros.
As garrafas e latas de cervejas caídas no chão
Cheiro azedo
De putrefação
De asco
De cela de cadeia
De crime
De vício
Um bater acende os olhos novamente
Que se voltam rápido para a porta.
O pó chegou.