E POR FALAR DE DORES...
lisieux
De onde vens tu,
com tua herança insaciável
que aprisiona no vórtice do teu desejo
o meu desejo inconfesso?
Dizes que eras Adônis
e que eras qual Arcanjo, imaculado,
porém as tuas asas lançam sombras
por sobre a luz azul da minha auréola
de separada serva do Altíssimo...
Eu, sim, era qual deusa, que no Olimpo,
vivia a exaltar o Absoluto
e não havia em mim, nada impoluto
que me fizesse arder-me de remorso...
Depois, porém, de em ti fitar os olhos,
de ver-te o corpo de estátua grega
e de ouvir-te a voz, rouca e profunda,
deixei de habitar o doce Éden
e me lancei - loucura! - nos teus braços.
Sou eu quem te pergunta: quem tu és?
De onde vens, a fim de aprisionar-me
e embriagar a minha lucidez?
Por que razão, tu me tiraste a calma
e me fizeste decair da Graça
fazendo-me arder em fogo eterno?
Por que vieste e me roubaste a paz
acenando-me promessas dissolutas
que me lançaram lá nas profundezas
do mais terrível e assustador inferno?
Vai-te tu de mim, ó libertino Fauno!
Deixa-me ser de novo alçada aos braços
do Pai Celestial que me criou...
Eu não nasci para ser tua Bacante,
portanto, vai-te de uma vez, segue adiante
e deixa-me esquecer o meu opróbio.
Meu Pai me olha com sentidos olhos.
Lágrimas verte, ao me saber perdida...
Portanto, vai-te
e me devolve a vida!
BH - 07.03.07