FAZ-DE-CONTA QUE SOU NORMAL
Faz-de-conta que Sou Normal
Que sou como todo o mundo
Que chora – e como choro!
Que ri – eu, com parcimônia
(para economizar, afinal...)
Que sonha – o meu com desdouro
Que ama – em decimal
Pois inteiros são meus bloqueios...
Faz-de-conta que não sou louco
Que não sofro de esquizofrenia
Nem mesmo sinto aperto, agonia.
Que não tenho paranóias
Que meus fãs não me perseguem
Só por ser popstar, um artista
Embora ignorem que seja autista.
Faz-de-conta que neste agora
Estou a escrever uma bela poesia
Ou a recompor a 5ª Sinfonia
Seja neste momento de euforia,
Em qualquer outra hora
Ou em um outro dia...
Faz-de-conta que exista alguém
Que não se importe com esta loucura
E até goste do enredo, da estrutura
Destes versos sem métrica e melodia
E que não perceba que hoje não é hoje
Mas que hoje é outro dia...
Faz-de-conta que mesmo sendo normal,
Nunca, jamais, nada disto escrevi.
Tudo não passou de fértil imaginação
De pura fantasia ou mera alucinação
Seja dos meus gentis leitores
Ou ainda de zombaria de mau gosto
De espíritos intuídos por meus mentores...