Menestrel maldito
Ser poeta não é benção
E nem parece ser um dom.
Mal que vem pra bem
Ou bem que venha para mal?
Quem dera eu visse
As coisas como elas são...
Mas não. Tenho que ver
Às avessas, as instituições.
Se ao menos eu pudesse dizer:
Pau é pau, pedra é pedra.
De que me adiantaria falar
Do que todos sabem?
Ou saber do que todos falam...
Minha função é tocar a ferida
Ferir mais ainda a maldita.
Fazer jorrar o sangue do espírito
E colher em salvas de prata
As lágrimas da alma...
Pela vontade reprimida,
Pela coragem contida,
Pela dor, pelo amor; ou ainda,
Pela própria insipidez do sabor.