Tudo incerto

Essa vida que me mata enquanto vivo

Me ameaça com seus vícios

Que trapaça com seus prêmios

Me exige monge e boêmio

Traga-me com os tragos que tomo

Nunca, jamais me diz como

Se anjo ou verme pra chegar

Faz odiar-me por amá-la

Apelida-se de estágio

De temporal com presságios

Com simultâneas promessas

Que me faz julgar com pressa

Sem pesar por não ter dados

Essa vida em que me engasgo

Ao comer-lhe as delícias

Propícias à primeira vista

Que contrai quando espasmo

Estimula ao entusiasmo

Pra me abortar quando eu nasço

Essa má bendita vida

Dúbia, morre a cada dia

Me acostumando à alegria

Enquanto tece o meu fim

Não explica, não perdoa,

Não cancela assim à toa

Demora quando acho ruim

Essa vida é como eu sinto

Minha parte no latifúndio

Ora asséptico ora imundo

Crivado de seus valores

Faz-me acreditar profundo

Se a vida de verdade

Precisa assim dessas dores