BAR ANGUSTIA

Bebo do copo frio que há de muito em minha mesa

Bebo sem compartilhar com ninguém

Minha dose exata de solidão

Bebo entre os homens que também como eu bebem

Por outras razões,

Talvez bebam tristezas cotidianas

Descompasso ou outra dor qualquer

Eu bebo a angustia da alma, desta solidão que me sufoca

Porque sou um ilhado neste mundo

Assim não participo das risadas histriônicas

Dos risos soltos e das piadas

Daqueles de alma pequena e míopes mal veem a vida

Nem do riso sarcástico e odiante dos lúcidos

Que enxergam a realidade com óculos de grau

Bebo sò,( nem sei se estou em mim)

Olho os homens que também bebem

Quisera dizer-lhes algo que conforta

Falar do mal da vida, da bebida,

Mas retrocedo,

Mal maior è pensar,

Mal maior é viver

Não trocamos olhares

Cada um no seu canto

Eles buscando ecos para suas palavras

Eu buscando respostas no meu silencio

Me olham, com se olhassem para nada, mas me despem

Porque suas palavras são âncoras jogadas no mar já seco

Ah homens em estado de bar!

Sei que bebem a incerteza do amanha

Sei que bebem a certeza do passado sem gloria

E as humilhações do presente

Bebem o desconforto da vida

Bebem as incerteza do futuro

Tudo mal dissimulado em seus gestos entrecortados

Por silêncios torturantes, que nada explicam

Bebem sôfregos, os sonhos que não irão se realizar

Bebem os sonhos que não serão sonhados

O dono do bar é um homem simples

Taciturno que vive do infortúnio alheio

Sempre alguém vive do infortúnio alheio

Vive sem se importar com o universo triste das almas

Apenas servem a bebida gentilmente, comercialmente

Penso que gostaria de poder tocar aquelas almas

Servir-lhes um cálice de uma bebida, que significasse alguma coisa

Quisera eu beber e dissimular como as criaturas do bar

Quisera eu deglutir suas dores

E também as minhas

Que certamente são mais profundas

Que não se afogam no silencio, nem nas bebidas

Nem se as expele com lágrimas

Curte-se nos eitos escuros da alma

E sempre nos inundam de inconformismo

No abismo que é pensar a vida

No qual precipita este infortúnio que ora me consome,

...as horas passam com dificuldade

Mal entendem o burburinho irrequieto do bar

Que parece denunciar alegria e festa

Todavia, pelas cismas

vejo que por debaixo daquelas sobrancelhas

Que não há festa alguma

E a unica razão da alegria é poder não pensar

Nas nossas existências vazias

Não pensar e beber

Beber e não pensar

O alcool subindo pelo cérebro e a dor

Descendo pelos calcanhares

Óh Deus...

Eu leio todas estas pessoas

Com a amargura e a tristeza

Com que me vejo no espelho

Todos os dias

Sem qualquer solução

Porque se tivesse não estaria mais neste mundo

Meus sonhos foram todos desfeitos

Pela negligência de não fazer, pela omissão de não agir

Pela incapacidade de amar

Por isso bebo por razões piores que o dos outros homens

Bebo pelo que não vai ser, pelo que não pode ser

Enquanto a vida seguirá seu rumo torto

A provocar mais pessoas a beber

Mais pessoas a viver da dor alheia

Vendendo bebidas ou olhando pessoas

Para depois retratá-las em versos

Inúteis versos

Inútil bebida

Inútil vida

A noite avança com seus cavalos de fogo

Alguns homens, deixam o bar

Parecem felizes e soltos,

De longe, no meu alheamento

De não participar, de não sorrir

De não compartilhar, de não crer

De apenas observar

De não amar

De não dar, nem pedir

De apenas ouvir e introjetar

Sonho soluções inaplicáveis

O bar , então fecha-se

Com ele fecham-se as almas vazias

Fecha-se também

De vez minha esperança

Celio Govedice
Enviado por Celio Govedice em 17/03/2007
Reeditado em 27/05/2017
Código do texto: T416482
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