Som

Eu ouço o que não existe

Uma voz escondida no meio dos ruídos

Que sei não estar lá.

Agora mesmo

Usava o microondas

Ou aqui com o ventilador

Ou logo mais no banho e a tv ligada.

Ruídos dentro de ruídos dentro da minha cabeça

Sei que não existem

Mas algo me divide

Entre a realidade e a loucura

E eu me pergunto:

E se existir?

Um lado diz que é impossível

O outro diz que é apenas improvável

Eu fico nesse impasse, desejando apenas que passe.

Uma ventania que encoberta

Os latidos dos cachorros da vizinhança

Não me deixa saber diferenciar dos possíveis gritos da noite.

Outra situação se dá quando,

Indiscretamente,

Pego-me ouvindo um soluçar ao longe.

Estaria a pessoa chorando ou rindo?

Em cada um dos extremos das sensações

Se você reparar bem

Perceberá que são similares.

Não é curioso?

Duas sensações tão distantes

Que aos ouvidos descuidados

Soam tão semelhantes.

Gosto do silêncio

Aterrorizo-me

Na

Quebra

Abrupta

Dele.

Não tem motivo este barulho

Pare com isso

Estupram-me os ouvidos

Não quero, não posso.

Antes do anoitecer

Já me encontro só

Uma outra noite que se vai

Dentro da escuridão

As ondas ilusórias riem de mim.

GaP
Enviado por GaP em 19/02/2013
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