Um gasto adeus

Gastei a palavra adeus

Gastei o aceno

Gastei a nostalgia

Não tenho retratos

para matar a saudade.

Tinha uma gaveta cheia

E, agora vazia

Ela ri de mim...

Ri de minhas memórias

Ri da sensação táctil

que restou em minhas mãos.

Gastei a palavra adeus

Despedindo-me diariamente.

Da juventude, da inocência.

Da pedra, da montanha .

e das primaveras não vividas.

Gastamos todo o sal dos oceanos

Nas lágrimas que derramei.

Inundei meus peixes imaginários

Que beijavam as paredes do aquário.

Balbuciavam também a palavra “adeus”.

Sussurravam...

Gastei todas as palavras em poemas

Sujos de lirismo e romantismo

Gastei todas as verdades

Nas narrativas míticas...

As amarras de Prometeu estão gastas...

As sandálias de Mercúrio estão gastas...

Os truques de sua sedução

estão gastos...

São scripts lidos e repetidos.

Os personagens contemporâneos

são todos rotos, são desgastados

em paradoxos e metáforas.

Gastei tanto de mim.

Nas arestas do improvável.

Na imprecisão dos relógios.

Na incerteza das parábolas.

Gastei palavras,

cenários...

lendas em ritmo punk.

Gastei dinheiro...

E nesse mundo vil,

Isso é imperdoável.

Gastei o meu adeus.

E, não sei apenas ir embora.

Fazer a mala,

recolher a escova de dente.

A toalha a dizer “bom dia” em

plena noite.

E numa madrugada serena,

Repleta de estrelas, meteoros e

Mistério...

Percebi que o horizonte estava

gasto de tanto aguardar a esperança.

GiseleLeite
Enviado por GiseleLeite em 15/02/2013
Código do texto: T4142283
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