Um gasto adeus
Gastei a palavra adeus
Gastei o aceno
Gastei a nostalgia
Não tenho retratos
para matar a saudade.
Tinha uma gaveta cheia
E, agora vazia
Ela ri de mim...
Ri de minhas memórias
Ri da sensação táctil
que restou em minhas mãos.
Gastei a palavra adeus
Despedindo-me diariamente.
Da juventude, da inocência.
Da pedra, da montanha .
e das primaveras não vividas.
Gastamos todo o sal dos oceanos
Nas lágrimas que derramei.
Inundei meus peixes imaginários
Que beijavam as paredes do aquário.
Balbuciavam também a palavra “adeus”.
Sussurravam...
Gastei todas as palavras em poemas
Sujos de lirismo e romantismo
Gastei todas as verdades
Nas narrativas míticas...
As amarras de Prometeu estão gastas...
As sandálias de Mercúrio estão gastas...
Os truques de sua sedução
estão gastos...
São scripts lidos e repetidos.
Os personagens contemporâneos
são todos rotos, são desgastados
em paradoxos e metáforas.
Gastei tanto de mim.
Nas arestas do improvável.
Na imprecisão dos relógios.
Na incerteza das parábolas.
Gastei palavras,
cenários...
lendas em ritmo punk.
Gastei dinheiro...
E nesse mundo vil,
Isso é imperdoável.
Gastei o meu adeus.
E, não sei apenas ir embora.
Fazer a mala,
recolher a escova de dente.
A toalha a dizer “bom dia” em
plena noite.
E numa madrugada serena,
Repleta de estrelas, meteoros e
Mistério...
Percebi que o horizonte estava
gasto de tanto aguardar a esperança.