Escatológica inveja
O louco
é perseguido pelos fantasmas
de sua vida escura.
Absorto na indiferença de seus atos,
imóvel,
a dialogar com seus ratos.
O louco
já não faz-se entender,
com suas histórias
de como Deus lhe castigou.
Já não domina seu próprio corpo,
que, cinza, vagueia pela casa
e defeca sem nenhuma culpa
por entre os corredores.
O louco me chegou como uma
vela importada e prestes
a ter fim.
E agora, quando o ouço
perder bem mais do que a razão,
sinto uma triste inveja.
Não dele com suas loucuras
de morimbundo.
Nem de suas palavras
que reclamam uma sorte miserável.
Tenho inveja de sua merda
depositada sem culpa
ou compromisso,
no escuro
das perturbações.