As pernas

Ah! Elas sabem!

Que não se lhes exigia pelas simples tarefas do dia a dia

Que a caminhada era por coisa à toa

Por mero capricho

Por exploração mesmo

Já que era de forma ininterrupta

Esticando-as

Pressionando-as

Submetendo-as a esforços extremos

As flexões rítmicas alucinantes

A freadas e impulsos escorchantes

Sem aviso prévio

Sem razão que justificasse

E quando as paravam por instantes

Sobrecarregavam-nas com seu peso

Estático

Imóvel

Mas logo retornava aquela loucura

Molhavam-nas

Batiam-nas

Expunham-nas ao sol escaldante

Por horas a fio

Não poderia ser por algo meritório

Por alguma coisa com sentido

Eram aclives semiverticais

Declives apressados

Pulados

Volteios, puxadas, riscados...

E aquela música infernal por ladeiras intermináveis

E tudo acompanhado de muitas de nós

Obrigadas a passar pelas mesmas peripécias

Não dá pra entender nossos donos

Afinal que lugar é esse?

Essa tal de Olinda!