Abandone-se
Vai ser livre.
Pegue esse vento,
Arrime-se no infinito.
Vai ser livre.
Pegue essa sacada.
E se banhe de luz e visão
Infecte a paisagem de você e
Você de paisagem.
Vai ser livre.
Perambular pelos caminhos tortuosos
dos pensamentos
Vai ser livre.
Sem grilhões.
Sem convenções.
Sem roupas.
Sem maquiagem
ou máscaras.
Sem ácaros.
Vai ser livre.
Conhecer
intimamente as reticências
Aprofundar-se
sobre a estória dos mitos.
Escolha um deus particular.
Ou acredite em todos.
E incorpore-os, um a um.
Amamente-os abundantemente
com sua alma
No sorvedouro de espíritos
Ilumine sua existência.
Ilumine outras existências ou
por onde passar...
Acenda tantas velas que desejar.
Sem medo do fogo.
Vai ser livre.
Livre dos medos
Livre dos limites
do razoável.
do amável
do civilizado.
Desprenda-se de tudo.
dos títulos,
das posições, da geografia ocasional,
dos nomes e sobrenomes.
Dos números que lhe perseguem
a contar a miséria do mundo...
Vai ser livre.
Só veja as fotografias
E não leia nada...
Nenhuma palavra sequer.
Esqueça as frases.
Os parágrafos inteiros...
Recolha-se na fonética dos pássaros.
Alimente-se dos silêncios
circundantes
Decifre os enigmas
que quiser...
Ou perpetue seus segredos
em rituais secretos no
templo da imaginação.
Vai ser livre.
Ame e desame.
Vá ser simplesmente
Criatura do mundo.
Criatura do planeta.
Ser perdido em uma galáxia.
No leite do cosmos
Para alimentar o breve instante
de estar aqui.
De ser passageiro e viver
a eternidade possível.
Abandone-se no espaço
E ganhe a dimensão incomensurável
do desejo.
Vai ser livre.
E depois me encontre.
Na encruzilhada
das paixões.