Pequena ponte do tempo

Eu sou do tempo

Que vodka ajudava ao rum a fazer charutos

E ninguém dizia que estava puto

Ainda não se ouvia Maputo

E PT, saudações, ainda eram só expressões

Eu sou da época em que ser da época era confiar

Que a confiança confiável era ingenuidade

Que não havia maldade que superasse

À alma desde tenra idade

Sem tempo ou lugar pra se anunciar

Eu sou da turma da “desinformática”

Dos primórdios da antipatia pela temática

Que a matemática me instigava a lhe (me) condenar

Da mesa farta que já sonhava minha nação iria

Um dia a todos por primazia proporcionar

Sou dos conjuntos ao invés das bandas

Metais melódicos e das cirandas

Não estilizadas e embaladas pra se mostrar

Sou do sotaque não reforçado para enfrentar as investidas globalizadas

Que antenadas uniformizam como falar

Eu sou dos anos cujo dourado se vê agora

Eu sou história em seu pedaço que ainda se estica

Que me excita e também complica a me adaptar

Eu sou um velho que não aceita

A velha receita afeita à seita de se anular