Deduções
Quandos saio de dentro de mim, sorrio!
Tem sol brilhando aqui fora
têm flores, pássaros, pipas
e cantigas de viola...
Molecada jogando pelada,
rios fazendo marolas...
Mesmo que borre os dedos
descrevo...
Descrevo o que vejo, delineio, invento
Penso n’um sonho... Sonho!
Mas chega um invasor..
É o vento
– Menina tome tento!
Descabela-me, me descompõe...
Seguro o queixo,
recomponho!
E vejo folhas de verdade, coloridas,
correndo pela calçada.
[Nossa! Rodopiaram...]
Um pé de vento,
acorda meu pensamento.
Um rosto sorrateiro se embrenha na mente.
A fonte pretensiosa do amor
acaba por se fazer presente...
- ‘Mas dos olhos, ausente’ -
[Diz a saudade, só por maldade]
Passo os olhos pelo céu,
castelos de algodão são fiapos
transparentes pendurando carrossel...
Lembro de um parque
na infância alargando meu sorriso;
Roda gigante rodando:
- Embarque!
Embarco e provo doces,
macios, etéreos...
Algodão-doce!
[Acorda!]
Grita o papagaio cortando
o céu feito um raio
Cai o grafite com a arruaça
dos periquitos, também caio
no agito, sopro a pena, purifico,
busco outro tema, velejo
e minh’alma rema outra cena!
Com olhos hirtos
fito o horizonte
[quieta...]
Novamente
vejo olhos
amendoados e quentes.
Fruo, surfo pelas meninas,
contornando os abrolhos
lambidos por ondas de paixão....
não quero esta música!
troco a partitura,
mudo o refrão...
[Só confusão!]
Dedos amortecidos, doridos
Pedem compaixão
Vou ali!
Corro atrás do ocaso
buscando inspiração...
A lua sai em alerta
prateando radiação.
Passa esnobe e altiva
me deixando na mão...
Leio um caminho
de estrelas
[não decifro]
mas faço o escrito...
Escrevo o que vejo, o que sinto,
o que provo...
De novo e de novo!
Não sou discreta.
O amor por letras, clama e exclama
‘encavernado’ dentro de mim...
Ouço os gritos
e solto-o pra liberdade!
Algo se manifesta...
O que sou?... Quem eu sou?
Não sou profeta...
Não sou profeta!
Serei eu poeta?