O abismo e a loucura

Me vi transmutada

Num desenho difuso

Havia sombras e luzes!

Eu estava no meio delas

Me pintaram pálida

E com um sorriso forçado

Você quis me dar

O que eu precisava

Uma tela vazia

Numa noite fria

Com uísque no copo

E então pude comparar

A difusão de uma tela

Com o nada da outra

Me vi polarizada

Entre o abismo e a loucura

E sensatamente escolhi

O mundo das formas

o abismo que se fazia

Mas eu pintei a tela vazia

Com traços fortes e marcados

Eu me pintei no vazio

Abri a janela para sentir o frio

Estremecer todo o corpo

E naquela compressão

Senti a tela ganhar vida

Um gérmen que se produzia

Um tanto retraído

Tentando quebrar a sua casca

Pedia por expansão

E por esse impulso inconsciente

Se libertou da compressão

Dos grilhões da essência solar

Conheceu melhor a sua lua

E observando meu próprio gérmen

Decidi ficar nua

A janela ainda aberta

Eu não estava mais certa

Então escolhi a loucura.