DESCIDA AO INFERNO

Descendo ao subterrâneo rio do Inferno,

Com o velho barqueiro a transportar-me,

Pelas dantescas trevas do Averno,

Ouvi anjos declamando um triste carme.

Vi mulheres mendigas e leprosas,

Corrompidas por um ente satânico,

E as suas expressões angustiosas,

Fez-me nervosamente entrar em pânico!

Mas calei-me ante imagem das mais lúgubres,

Um sinistro Demônio traiçoeiro,

Esmagava aos gritos corpos fúnebres

- Com medo passei às costas do barqueiro.

À frente, um ente hercúleo, adamastórico,

Macerava sob pés inabaláveis,

Enquanto gargalhava odiento e eufórico,

Criaturas impiamente miseráveis!

Ouvi com horror escárnio, imprecações

E iracundas blasfêmias contra os céus,

Insultos vis, injúrias, maldições,

De corpos nus a arder em fogaréus!

Adiante pressenti maior perigo:

Um réptil feroz com negras escamas,

Com a ira hostil de um sádico inimigo,

Seviciava almas em infernais chamas!

Vi ainda mais, muito mais, tanto horror!

Caí de joelhos aos prantos de agonia,

E enquanto consumia-me o peito a Dor,

O barqueiro, impassível, nada via!...