INTERVALO

Foi numa noite clara como esta,
O suor banhava-lhe a testa,
Os olhos luziam estranhamente,
Deu um intervalo para a lucidez,
Expôs ao luar sua nudez,
Cantou, dançou, gritou, fez
O que a doce loucura pedia,
Ou melhor, exigia,
Triunfantemente,
Preparou para a lua uma festa,
Compôs versos par ela,
Entrelaçou paralelas,
Ornamentou com as estrelas,
O seu impávido momento,
Se viu completamente isento,
Das responsabilidades,
Rotineiras do dia após dia,
Se sentiu o autor da liberdade,
O vento em movimento,
Uma noturna divindade,
Mais feliz do que merecia,
Implorou à loucura que perpetuasse,
Esse perfeito enlace,
Mas, não teve jeito,
Ela é dona de si, fugidia,
Acordou para o seu eu imperfeito,
Para a concreta realidade,
Do seu leito.