ASAS
Hoje quero o lírio, quero a lira, quero o lírico,
quero o lápis, o esboço, o desenho, o impossível.
Hoje quero eu, quero o léu, quero o céu,
a estrada reta, esférica, estrelada.
Hoje quero nada, quero tudo, quero asas.
O tesouro, ouro, louro, quero o risco.
Quero a brasa no meu seio dolorido.
Quero a brisa, quero o riso, o infinito.
Hoje quero palco, quero luzes no labirinto,
nos lábios perder o tino no vinho tinto.
Quero as coxias, o cochilo, o meu umbigo,
quero asilo no abrigo que me obriga a ser detido.
Quero o grito, a discordância na corda bamba,
a resolução da consonância, o repouso.
Quero o voo livre, a queda livre no universo,
quero o verso, o reverso, quero o pouso.
Hoje quero o passado, o presente, o futuro,
o lapso da memória preenchido.
Quero a palavra que lavra o meu oficio.
Quero nada, quero asas, quero tudo.
JP09022010