ASAS

Hoje quero o lírio, quero a lira, quero o lírico,

quero o lápis, o esboço, o desenho, o impossível.

Hoje quero eu, quero o léu, quero o céu,

a estrada reta, esférica, estrelada.

Hoje quero nada, quero tudo, quero asas.

O tesouro, ouro, louro, quero o risco.

Quero a brasa no meu seio dolorido.

Quero a brisa, quero o riso, o infinito.

Hoje quero palco, quero luzes no labirinto,

nos lábios perder o tino no vinho tinto.

Quero as coxias, o cochilo, o meu umbigo,

quero asilo no abrigo que me obriga a ser detido.

Quero o grito, a discordância na corda bamba,

a resolução da consonância, o repouso.

Quero o voo livre, a queda livre no universo,

quero o verso, o reverso, quero o pouso.

Hoje quero o passado, o presente, o futuro,

o lapso da memória preenchido.

Quero a palavra que lavra o meu oficio.

Quero nada, quero asas, quero tudo.

JP09022010

Aglaure Martins
Enviado por Aglaure Martins em 18/11/2012
Código do texto: T3991632
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