Eutanásia
Meu corpo treme em silencio,
Latente, no escuro deste quarto
Onde paira o ar pesado, suspenso,
Na morbidez de um sentimento harto...
Agora, o que sobrou de mim?
Não consigo encarar ao espelho
Estou vivo, mas esperando meu fim,
Ligado há vários aparelhos...
Outra vez meu dia virou noite,
E meu corpo já cansou de sofrer
A vida tem me levado à base de açoite,
Agora só espero o momento de morrer...
Mas estou lúcido, só queria que soubesse,
Que com sua lágrima, eu sigo agonizando
Preza a minha garganta, ela não desce,
Então acabo por você também chorando...
Há um anjo aqui, sobre o mármore frio
E somente eu posso ver ele
E só ele sabe, que você me põe opróbrio,
Ao notar as chagas da minha pele...
Dói, dói tanto que até a alma sente,
Tento gritar, mas sei que não posso
Fechei-me para o mundo, e dele estou ausente,
Neste meu desespero tão acosso...
Eu sei que me prendi a vida,
Muito mais do que eu devia
Mas queria voltar ao ponto de partida,
E poder ver que ao seu lado eu seguia...
Com um peito que sangra, na mísera ilusão,
Ao pensar que ainda pode me fazer viver
Mas aparelhos matem vivo apenas meu coração,
Porque a alma já se pôs a morrer...
E não quer viver pelo mal fadado,
Desestimulado, por esta distanásia
Então peço a Deus, que livre do pecado,
A quem me presentear com a eutanásia...
Já passou minha hora, estou desfigurado,
Não reconheço essa maneira de viver
Ouvindo meu coração, há um aparelho ligado,
Mantendo-o vivo, mesmo sem poder viver...