A longa viagem
Ele não queria continuar a saborear,
A monotonia de seguir no presente,
Algo fê-lo voltar e vislumbrar,
Uma possibilidade mesmo descrente.
Acabou se projetando ao tão conhecido,
E na chegada se vangloriou de tal feito,
Passou por um longo caminho florido,
E parou diante de si mesmo satisfeito.
Pudera mudar toda a trajetória,
Num sonho mergulhado em nostalgia,
O passado passou com glória,
Não tocou naquele lindo dia.
Quisera alterar o arrependimento,
Mas se rendeu à contemplação,
Daquele que foi seu lamento,
Bandeira branca e rendição.
Rodopiou por dentre as consequências,
Incandescido diante de si se resignou,
Não haveria de fazer condolências,
Àquele que todos os erros superou.
Com euforia se mirou contente,
Orgulho em seu coração reinou,
Finalmente estava em frente,
De tudo aquilo que desacreditou.
No turbilhão tonteante do inesperado,
Inebriado olhou ao alto e aguardou,
O enredo perfeito por ele sonhado,
Diante de seus olhos se desenrolou.
Culpado por sua rebelde transgressão,
Observou o perfeito desenlace,
No silêncio da surreal ocasião,
Encarou o medo face-a-face.
Na singularidade daquele momento,
A verdade despiu o disfarce,
Sorrindo atirou ao vento,
Espalhando ao alento sua catarse.
Restou o retorno indesejado,
A cegues diante do que viu,
Com resignação voltou de bom grado,
E num instante tudo se esvaiu.
Passado o tempo ainda viva,
A ele se apresentou,
A lembrança à deriva,
Nada daquilo se concretizou.
E por fim genuína sensação,
Degustou a verdadeira memória,
A viagem jamais fora em vão,
Construíra sua própria história.