PÁSSAROS DESAJEITADOS

Às vezes eu sinto como se vivesse pétreo com osso de bronze dentro de um corpo que não me pertence, feito de fragilíssimas armações e rios vermelhos de hordas bravias com centelhas de hematitas estáticas

Parece que estou pagando aluguel por viver dentro de sua carne. E o que mais me incomoda é a paciência que ele tem de viver na esperança dos dias que passam complacentes, elásticos mais em dia com sua caudalosa e reticente cavalgadura.

Sem a mínima pretensão de se libertar desta escravatura que fica circundando a pobre criatura... Mais o mais insuportável é que nada é igual a nada, as coisas mudam de lugar o tempo todo, só o pó é o mesmo, erguem-se impérios e erguem-se mausoléus e a nave terra vai levando seus passageiros seriais por viagens desconhecidas...

Nas nuvens do levante abrem-se as margaridas

Entre subidas coloridas e descidas cinza, a seiva da primavera desliza pelos ramos das flores renovam-se as dores e os cobertores cobrem a relva de vida e na escuridão do outono prepara o lume para então fortemente exalar o seu perfume e assim ele vai vivendo entre a poeira arrastada e o mais alto dos cumes...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 29/10/2012
Reeditado em 31/10/2012
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