NO BAILE DE MÁSCARAS

Se tivesses tido

com as mulheres

comigo

a mesma coragem

com que caminhas

nos outros todos campos

da tua vida

a nossa vida

não se teria tornado

esta Mascarada

esta Inexistência.

No baile de máscaras

eu, com a cara limpa,

sou uma aberração.

Vesti também

as máscaras obrigatórias.

Como Fernando Pessoa

na Tabacaria

“Quando quis tirar a máscara

estava pegada à cara.”

A velhice

nos chegou a todos

de chofre

no meio do baile.

Fomos para a praça

nesta quarta-feira de cinzas

para sempre.

Em verdade

aprendemos um com o outro

a Mascarada

a Inexistência

o Teatro de Sombras.

No meio da noite

o espelho do sonho

nos assombra a todos

mascarados

a dormir no vestiário.

Assombrada

vagueio pelas salas

na procura inútil

do Mascarado que amo

com a sua eterna fala em meus ouvidos:

“Eu não te conheço.”

Republicação na madrugada de 27 de outubro de 2012.