noite suja
acabei de vomitar.
o estranho é não ter bebido…
e a sensação de sanidade
que voa longe do alívio!
ah! noite terrível!
há dias em que é noite…
que é noite dentro, e é fria.
acabei de vomitar…
mas o que é que comi?
lembro-me ainda de me doerem as tripas
numa fome de fera, quase sanguinária!
há dias na gente…como há!
vêm monótonos, seguros e passam
mas, se calam e ouço num grito a dor.
acabei de vomitar.
e aquilo, no chão, imundo, é um pedaço meu.
sabe-se lá qual deles, estão todos imundos
um pedaço meu que se diluiu e botou-se (por si) fora!
esses dias…ah! a gente vomita.
dom de instinto, duma coisa indigesta que azeda a alma
e o corpo bota pra fora, que não se sabe o que é!
vomitei. Acabei de vomitar
nos meus pés repousa a mancha,
aqui dentro a ignorância é que o faz…
e a natureza me cala, puxando-me as tripas fora.