Castelo do Mentecapto
A cama quente sob as costas
Devaneios livres no vácuo da mente
O conselheiro, que nunca dorme
Desperta o homem-trapo de repente
Cansado do martírio
Tenta ser quem era antes
Mas os choques que o cegam
Permanecem lancinantes
Distantes... eles se perdem
Aqueles que um dia amei
Preso firme, duas vezes
Fito o cartão que ganhei
As letras manuscritas
Misturam-se sem parar
A dor de cabeça volta
sem aviso, a me tomar.
Água, cápsulas e uma cadeira
Decoram o cômodo
Sento-me, sem sono
Novamente a viajar
E gritos vibram a porta
Som que já é rotineiro
"É apenas seu destino"
Faz-me crer o conselheiro
A claridade que entra
Traz um fio de esperança
Mas depois, logo me lembro
Devo a ti minha fiança
Fiança do tormento
Do sopro de morte
E tento, tento de novo
Nem mais conto com a sorte
Vem mais um dos turbilhões
As mãos trêmulas agarram na cama
Caindo sem me mover
Resisto ao perder, que clama
Em chama, volto a mim
Imploro pelo sossego
Que espero um dia no fim
A palidez retoma-me a face
Que de tanto tê-la, corou
No castelo do mentecapto
Mais uma noite chegou.