Fora de Mim...


Me enxergo fora de mim
Ou meu corpo padeceu
Ou tiveram pena enfim

A cada passo dado
O androide ou a divindade
Instala-se no universo meu
Deixo assim o recatado
Em prol da busca da verdade...

A vida é como uma janela
Ou múltiplas, como queiram
Onde miro tulipas fora de casa
Me conduzindo ao âmago onde ela
Mãe de todos os que amam
Consola o pranto que abrasa

Estou fora da rota secular
É apocalíptico o meu pensamento
O sepulcro se aproxima a me apressar
E revoga todo aquele firmamento

Todo o agradecer não pode ser vão
Aquela luz peregrina que me traga
E vos expulsam até da escuridão

Toda rima é ilusão
Voz efêmera que passa
Pessimista devassidão

Me enxergo fora de mim
A chuva bate ao vidro e entrega
Sons celestes de bandolim
E frutos verdes em adega

Tudo é branco e preto
Amarelado ou cinzento
Embaraçado de rábulas
Sem razão, sempre fábulas

Por que não aceitam minha volta?
Que enigma preciso desvendar?
Sim, meu corpo expirou
Crente e cheio de revolta
Atônito, perdido a agonizar
A morte que a muito me deixou

Até os cães são pusilânimes
A meu ver seu instinto não esvai
Irritantemente uniformes
Em contradição não recai

Enfim o último suspiro
Mais distante ainda me vejo
Nas letras em recôncavo deliro
Fujo agora ao Alentejo...


Ou meu corpo padeceu
Ou tiveram pena, enfim.



***