Juízo-final do poeta
Juízo-final do poeta
Eu escaler da poesia
Vagando no anonimato
Florescendo escritas
Em páginas inauditas
Num verde-mar leve além
Pétalas no mar, pequenas lembranças das luzes do céu.
Verdes dos meus olhos
Das mãos brotam espinhos...
Enternecidos...
Que sobem com a maré nos prados do meu sangue.
Tetos soturnos!
Na telha da mata.
Precariedade do corpo
Verbenas violentadas
Fulguram abandonados silêncios
Num rio que passa sem seguir.
Apoiado num caminho. É uma serpente deitada por quilômetros derramando no mar.
Um rio não pode bater asas, abraça em seu caminho a mesma pedra.
Solto no leito o rio desaparece... Aboleta-se no limo que nas pedras se agarram.
E o mar batendo nas pedras...
Paixão suicida
Entre os dois elementos
Que se acumulam em areias...
E ondas de muitas vozes.
Esse poema vazio...
Num vai e vem de meus olhos (Num indo e vindo infinito).
Dilacerado!
Batendo de frente com a imensidão.
Fonética dos olhos
Poço cavado ao chão... Chão das palavras...
Fósseis, cálcio.
Ossos, palavras de medo.
Gritos dos afogados inauditos.
Ruídos póstumos...
Idades do carbono
Clamam pedregulhos...
São criptas erguidas em suma memoria
Vozes que amamentam os paços
Cristais floridos nos olhos.
Florindo diamantes coloridos...
Diurnas luzes
Paletó do poeta nódoa
Cartola e fraque reluzentes
O abraço da poeira em seus olhos
Enfurecida contemplação de raízes, subsolo!
Abstrato e escuro, e a força da vida clara.
Na superficialidade de outros olhos
Cegos procurando o sol.
No caco da quimera noturna
No escuro sol calcinado na retina
Nos bordados da ferrugem que florescem.
O beijo salgado da maresia
Couraça de abandono
Adorno perecível.
Feito chagas neste mesmo olhar fulminado.
De imagens grisalhas.
Uma mentira disparada no peito
Amadurecendo a morte no claustro banal.
Incêndio vivo!
Destruição miasma das moscas...
Flambadas na boca de enganos
Pântano das ilusões.
Vagando águas paradas no ócio.
Minhas dores...
Enfurecidos silêncios, incontáveis silêncios que apanhei nestas sombras.
Crateras de vozes...
Cancros oceânicos.
Mas que floresciam no olhar.
Em todas as formas de duvidas...
Mar, rio, pedra, silêncio, dor, diamante.
As raízes saindo da boca
Para beber teus olhos oceanos.
Voo soturno...
Borboletas das florestas
Azuis, vermelhas, alvipretas, amarelas.
Funestas!
Póstumas rugas nos florescem das mãos
Como escamas perecíveis...
Marcas do tempo!
Roído sobre se mesmo após florescer...
Tantas noites e tantos dias
Desabrochando nos olhos
Roseirais de paixão!
Saudosa carne de sexos.
Amplas noites para desaparecer...
Aos poucos em últimos verões.
Amplos olhares trocados ao fundo das paisagens
Procurando horizontes furtivos.
Respiro enquanto vivo!
Todo o juízo final que for preciso...
O juízo final que o tempo já determinou...
E que começa no poeta...
Nos olhos do poeta!
Francisco Cavalcante