LAMPEJOS DE LOUCURA

Hoje eu cismei...
Sairei de madrugada,
Darei muitas risadas,
Conversarei com os cães que reviram as latas,
Cantarei uma serenata que retrata,
Essa “vide vida marvada”.

Assustarei os gatos que caçam seus ratos,
Acordarei a mendiga que faz da calçada o seu quarto,
Chamá-la-ei de bela só pra ver a cara dela,
Baterei nos portões só pra ouvir os palavrões,
Que ecoam pelas janelas.

Estacionarei em frente ao banco e gritarei,
-Isso é um assalto...!
O que fazem com agente cobrando absurdos juros,
E ainda oferecem um monte de seguros.
Passarei pelo quartel,
Provocarei o policial da sentinela,
E antes dele disparar, pularei a cancela,

Sentarei no meio da praça, olharei para o céu,
Esperando um encontro casual;
Se não vier, não faz mal,
Não trouxe no bornal o meu lado sentimental,
Deixei-o na estante,
Junto aos livros de Dante.

E quando o dia raiar...
Os pássaros começarem a cantar,
Retornarei ao meu “lar doce lar’”,
Tomarei um banho, deitarei na cama,
Ouvirei a mulher dizer que me ama,
E contarei rebanhos, até eu apagar.

... E tudo voltará a ser como antes.