As coisas que não são

São tantas as coisas que não são

Que são do tamanho das que são,

Ou das que seriam.

Que, por suas vezes, de algum modo,

Estão apagadas pelo medo,

Pelo desejo de não serem.

Quanta responsabilidade do ser que é...

Perigo! As não coisas também são:

São pessoas, são seres não pessoas;

Proliferam como ervas daninhas e,

Às vezes, danam-se no doze...

Embora sem poder nenhum,

As coisas que são fazem a história,

As glórias e seus desastres vis.

Apesar de tudo, não se pode apagar o tempo

Como se as coisas fossem pintadas

em um grande "Blackboard".

E, depois, sair por aí

Dizendo que o tudo foi menor que o nada,

O princípio veio depois do fim,

E apagamos sem dó

uma gravura que nunca existiu.

O que foi, o que seria,

pode nunca voltar, jamais...

Quem viveria para ver

Os não seres tomarem o poder?

As coisas perderem a cor,

A textura, o sabor, o cheiro

E jazerem no mais absoluto silêncio;

As não coisas recitarem

Os versos mais adversos

No antiverso de todos os universos

Desconhecidos.

Seria a vida virada Às avessas?

Que desatino! Que deventuroso destino...