Odeão do poeta solitário
Com um módico pensar olho para fora da janela! Sinto lufar o vento!
Vejo um longa-metragem sem pestanejar através do ray-ban.
No lusco-fusco do crepúsculo, com o sol ainda luzidio no vermelho doce do horizonte.
Neste odeão recito à solidão!... Sarau de pensamentos.
Falo como extrínseco!
Sinto-me um vampiro num grand guignol... A gritar como louco!
(Réquiem a Torquato Neto no manicômio.)
Dane-se a haut gomme com seu ar puritano.
E o idílio Dos apaixonados!
Prefiro o miasma das frases abandonadas!
Sou a plebe suja se arrastando muito abaixo dos teus sapatos lustrosos.
Minhas palavras não dizem nada! Não ocupam seu travesseiro nem o peso de sua cabeça.
Meu coração sazonado de tantas dores não levas no teu peito!
Nem o sangue agitado e sebento de minhas dores.
Sectário da sociedade de poetas solitários.
Não sou de tagarelar!
Urbi et orbi,
Sou silêncio de ossos e tumbas!
Vae victis!
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OBS: grand guignol- Teatro em que se representam peças de terror; uma dessas peças.
Extrínseco- Que não pertence à essência de uma coisa exterior; externo
haut gomme- A sociedade elegante.
Urbi et orbi- "Para a cidade e para o mundo", em toda a parte.
Vae victis!- "ai dos vencidos!", palavras citadas para lembar que o vencido está à mercê do vencedor.
Odeão- Entre os antigos gregos, teatro coberto destinado às apresentações de poetas e músicos; auditório para espetáculos teatrais, cinematográficos, para concertos, atos de verdades, etc.