A PUTA QUE PARTIU

Sonhos de uma puta que partiu

A ponte ruiu tantos passaram por ela

Aquarela de gemidos

Surtos sumidos

Cometas de cor azul anil

Homens de todas as cores

De mil amores

E para valorizar o conceito

Como crianças sem mães

Mamaram muito de meu peito

Homens doentis

Putas com asas de meretriz

Alçam voos caudalosos

Homens gentis

Troca de perfis

Garbosos em franca carência

Sumarias relações

Precoces intentos

Detentos da carne

Nas ondas do prazer

Só querem usar o buraco negro

Tacos de golfes

Nervos torpes

Descerrando as portas

Apaga tudo

O gozo a embriaguês

A mistura salina

A tinta retinta

Opalescente

O sopro quente do querubim

O que restou de mim

Se não esta puta que partiu

Deixei esta carta

Que me descarta

Fui mais fêmea

Que muita dona de casa

Prazer não tem começo

E não tem fim

Sou pura sim

Cada carne que me encosta

Pela primeira vez sou casta

Me arrasta ao prazer

Me sorvem a pequenos goles

Não engulo o ângulo da insensatez

O pecado não tá na carne

Nem no prazer

Se me procuram

É porque arranco deles

O que eles não têm

Grito e os atinjo em cheio

Sou um saco de recheio

Nada mais

Que uma puta

Que tem polegares

Em todos os lugares

E as mãos que me esquecem

Mais velozes como a chama

De uma carta não escrita

Num pedacinho de meus jogos fatais

Parti pra outro mundo

Esta puta que o sonho pariu

Meu caixão é feito de segredos

Este é meu ser que aqui jaz

Sonhos de uma puta que partiu

Não sinto o peso da terra

Pisem-me devagar

Por amor e por favor...

Jasper Carvalho
Enviado por Jasper Carvalho em 04/08/2012
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