A PUTA QUE PARTIU
Sonhos de uma puta que partiu
A ponte ruiu tantos passaram por ela
Aquarela de gemidos
Surtos sumidos
Cometas de cor azul anil
Homens de todas as cores
De mil amores
E para valorizar o conceito
Como crianças sem mães
Mamaram muito de meu peito
Homens doentis
Putas com asas de meretriz
Alçam voos caudalosos
Homens gentis
Troca de perfis
Garbosos em franca carência
Sumarias relações
Precoces intentos
Detentos da carne
Nas ondas do prazer
Só querem usar o buraco negro
Tacos de golfes
Nervos torpes
Descerrando as portas
Apaga tudo
O gozo a embriaguês
A mistura salina
A tinta retinta
Opalescente
O sopro quente do querubim
O que restou de mim
Se não esta puta que partiu
Deixei esta carta
Que me descarta
Fui mais fêmea
Que muita dona de casa
Prazer não tem começo
E não tem fim
Sou pura sim
Cada carne que me encosta
Pela primeira vez sou casta
Me arrasta ao prazer
Me sorvem a pequenos goles
Não engulo o ângulo da insensatez
O pecado não tá na carne
Nem no prazer
Se me procuram
É porque arranco deles
O que eles não têm
Grito e os atinjo em cheio
Sou um saco de recheio
Nada mais
Que uma puta
Que tem polegares
Em todos os lugares
E as mãos que me esquecem
Mais velozes como a chama
De uma carta não escrita
Num pedacinho de meus jogos fatais
Parti pra outro mundo
Esta puta que o sonho pariu
Meu caixão é feito de segredos
Este é meu ser que aqui jaz
Sonhos de uma puta que partiu
Não sinto o peso da terra
Pisem-me devagar
Por amor e por favor...