A gente muda
Eu ainda sou criança
Exceto quando a confiança
(A que aos adultos espanta)
Tende a me abandonar
Eu ainda sou arteiro
Briguento e aventureiro
Sonhador e sem dinheiro
(O que vivo a batalhar)
Eu ainda choro fácil
Encabulo e não disfarço
Quando pinta algum traço
De hostilidade no ar
Eu ainda me incomodo
Com coisas que outras pessoas,
Não que venham a acha-las boas,
Detona o bem meu estar
Eu ainda tenho vergonha
Do que, com essa idade tamanha,
Quase ninguém mais estranha
Ou fica a se incomodar
Eu ainda acredito
Que justiça é o infinito
Que raramente no grito
Eu precise me expressar
Eu ainda sou ingênuo
Acredito nas pessoas
Basta uma delas ser boa
E vem tudo se confirmar
Eu ainda me desculpo
Mortificado, mas fulo
Silencioso, me apupo
Quando me pinta um apuro
Eu ainda acho que um dia
Desfar-me-ei desse embrulho
Do perfil que me desafia
Que me faz tão imaturo
E não haverá saudade
Nem choro em frente a uma cena
Poderei ver a maldade
E ódio que envenena
Moldarei semblante duro
Serei muito objetivo
Do outro lado do muro
Destroçando os inimigos
Jamais serei todo ouvidos.
Desumanizado e firme
Temor só de algum castigo
Por não ter o que já tive