Em verdade tudo o que sinto e penso
Caminha mui longe do senso
Chega com as chuvas
Com as noites
O frio
O vento...
E não culpo teus olhos d'espanto
Estranhos,
Tamanhos...
Pois sei,
Meus versos destroem cores e sonhos
Quereria raspar meus cabelos
Arrancar meus tantos panos e pelos
Lambuzar a cara de urucum
E depois de olhar todo homem
Um a um
Desatinadamente correr
E correr...
Correr até desaparecer
Até meu olho parar
Meu reverso tentar divisar
E nada mais ver
Embrenhar-me-ia no mato
Andando dum jeito pacato
Encontraria meu canto
Um nicho
Ninho de bicho
E inventaria uma magia
Uma que desse à m’ia mente
A tão desejada alforria
E nem lembrança teria
Dos malditos brancos leitos
Onde faltam-me os ares
Onde correm meus rios e mares
E secam aqueles que foram meus peitos
Aqueles meus por direitos
E de a cá
Em mente
Plantaria bem fundo
Aquela que me fez semente
E riria do monstro escavando
Tentando escavar
Pensando inda mais castigar
Com fios frios, placebos e agulhas...
Seria índia contente...
E se um dia
Depois disso tudo,
Por descuido
Meu sangue selvagem olvidasse
Em tudo demais me fiasse
Sem enxergar o destino
Outra vez a m’espreitar
Acenderia inda mais de urucum mi'a face
E outra vez quiçá escapasse
Com as forças de antes
E por alguns instantes até voaria
Depois dormiria...