Quando me escrevo

eu leio

desenho estranho

ou por vezes me reconheço

ou durmo

ou apago

outras sou vinho amargo

pedra ou estilete

arco sem flecha

brecha

entranhas
 

Quando me escrevo

verto sabores e visgos

retiro ou invento

tantas cores

intenso arco-íris

 

Quando me escrevo

renasço ou estraçalho

quando me escrevo

faço um pacto

com o demônio

resto atônito

sou Maria

sou Antônio
 

Quando me escrevo

viro anjo

subo ao céu

chuva com gosto de mel


 

Do corpo ou da alma

ou do sangue

verto em ânsias

e o que vejo

escrito sou eu

em algum lugar

ou não sou eu

em lugar algum

vida inteira

instante

apogeu

 
 

E se me leio

lambo o pranto

engulo a dor

transfigurada

linha torta

e vai e volta

enfim afaga


 

Quando me escrevo

sou grito

trovejo

calmaria ou pejo

incompleta

direta

 

Quando me escrevo

tenho medo

de ver revelado

algum segredo

vem do fundo

vem do raso

ou do acaso

e deita e rola

e agoniza

mas também

vibra e geme

e chora e treme
 

Quando me escrevo

latejo

quando me escrevo

sou lampejo

e fé

e fome

sou isso

ou não sou nada

ou tudo que não tem nome!

tania orsi vargas
Enviado por tania orsi vargas em 13/06/2012
Código do texto: T3722986
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