Serremédio
Antes de tomar o remédio, julgo-me
pois esta é a única forma que conheço
de saber que eu estou bem e são e sadio
pois estando bem e são e sadio, eu quebro-me
em pedaços de cacos de fumaça que formam
meus outros eus que não eu mesmo
E juntando esses meus outros eus que não eu mesmo
vou descubrindo que vários deles são irreconheçíveis
e vou descobrindo laços familiares como os que tenho
com um querido neto e vou achando que este meu eu
Obviamente não pode ser eu, pois este meu eu já se foi a tempo
ele se foi abraçar-se com o Tempo pois quis um pouco do Sol
Sol, deus muito menor que meu Deus, como pode tú
não libertar a alma de meu neto, que
seguindo a moda do pai coitado
filho não bastardo de meretriz
jogou-se
.............. e do décimo!...................
quem dera eu tivesse outra forma de ver o mundo que não essa agora
quem dera minha linhas fossem somente linhas
II
é antes do remédio que minh’alma é doente
tento ser cem por cento sem centavo algum
pois a vida de poeta é bela mas é pobre
e pobre não come.. mas nem toma remédio
Quem dera eu tivesse plena cpnsciencia
do que estou fazendo e do que farei
e do que fiz e do que farinha
eu não tenho plena consciência de tudo desta vida mediocre de poeta incompleta
como sempre foi!
toco na tela do computador como se fosse para tocar em mim mesmo
e eu mesmo me corto e me abro e me descubro e me choro muito
pois para mim não há mais jeito nem esperança nem afeto de alguém
Estou...
não,
é covardia
Sou velho e não consigo ser pai nem ter pai nem ser filho nem ter filho
QUE SOLIDÃO MEU DEUS!
III
Antes do remédio lembro do juiz
e da sua forma de julgar os outros
mas ele é menor
que o Juiz
(humano tinha que ser menor em algo)
eles não entendem minhas linhas, fracas fibras por onde teço
uma bélissima teia de vibrações vitais mas inúteis porque
algo no poeta tinha que ser contraditório
tinha que serremédio