A essência da coisa
Eu a via com outra cara,
Com a cara que eu tinha pra ver;
Agora, a coisa mudou de cara,
Cara estranha, não é a que tiinha que ter.
Antes era de tudo um pouco:
A coisa preta, coisa séria,
Coisa muito louca, coisa feia,
Coisa linda, fofa da mamãe,
Papai, titio,vovô... sei lá; às vezes era até
Treco, coisa, tareco, trósso, negócio,
Geringonça, trambolho, algo, objeto;
Qualquer nome que não denomine.
Mas agora, o que era coisa,
Anda descoisificada de tal modo
Que Manuel de Barros diria:
-Perdeu a coisidade, descoisou todinha,
Alguém deu-lhe um nome e o nome levou
A essência, a liberdade
Da sua coisitude.
Porque a coisa, de repente,
Ou bem mais que de repente,
Arbitrariamente, ganhou um signo,
Portanto, não sou mais livre para chamá-la;
Sou um escravo da denominação compulsória
Descoisificadora que Levou a alma,
Significou e deu nome à coisa.