DESGUIA-ME, POETA !
Desguia-me das tardes de meus sonhos,
e também de minhas noites sem luz.
Dos momentos em que eu estive só.
Desguia-me das tormentas e trovões
Desguia-me dos outonos de mulher
aquela mulher, passado errante de mim.
Passa ao largo e me toma pela mão,
levando-me ao outro lado da margem
Desvia-me também ao teu insano olhar
afugentando o frio das manhãs sem sol
do meu diário fúnebre, e total "sem vida"
diário tão cinzento dos meus pés no chão
Desvia-me prá longe do meu certeiro norte
que é sempre tão centrado, tão lógico,
eu não quero as tuas rimas do soneto rico
desejo as vãs palavras em teu imediato
Desguia-me ao teu mundo de poeta errante
e me reconforta com teu beijo certo, quente
em nossas tardes em amores eloqüentes
e nas manhãs de inverno de amores ausentes
Desguia-me de novo para que eu possa
aplacar de vez minha amargura, em posse
desta tua boca de poeta, em que posso
derramar meu mel nas noites de passagem
Nota: é prá você viu ? agradecendo aos versos de voar,
e dizendo sempre: Pode, enfim, me desguiar... é tudo o que eu quero !