A Loucura dos Poetas

Valores, valores

Que se não mudam

Causam horrores.

E que me surtam

Os seus senhores.

Valores que não mudam.

Amores, amores

Se fossem ao menos eternos,

Não se murchariam as flores,

Nem a folha de meus versos.

Quem canta seus louvores,

Martela-se com tristes pregos.

Sonhos, sonhos

Triste lembrança d’alma.

Que se desfalece em contos

Taciturnos d’alvorada.

Sois a glória e sois o medonho.

Sois a sorte abandonada.

Brandura, brandura

Acalentada pela chama da vela

De límpida ternura.

Calmaria dos barcos à vela.

Quero sua fortuna;

Que dessa, padeço na Terra.

Loucura, loucura

És a mão insana da perfídia.

E dos loucos, a grande fuga.

Dos poetas, a grande poesia.

Parar tirar do engenho a culpa.

Da vida, és a grande cortesia.

Mas de que adianta

Ter-se valor,

Se não se tem sonho?

Ter-se amor,

Se não se tem brandura?

Ser poeta,

E não ter loucura.

Luís Clemente de Campos
Enviado por Luís Clemente de Campos em 06/04/2012
Código do texto: T3597575
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