A Loucura dos Poetas
Valores, valores
Que se não mudam
Causam horrores.
E que me surtam
Os seus senhores.
Valores que não mudam.
Amores, amores
Se fossem ao menos eternos,
Não se murchariam as flores,
Nem a folha de meus versos.
Quem canta seus louvores,
Martela-se com tristes pregos.
Sonhos, sonhos
Triste lembrança d’alma.
Que se desfalece em contos
Taciturnos d’alvorada.
Sois a glória e sois o medonho.
Sois a sorte abandonada.
Brandura, brandura
Acalentada pela chama da vela
De límpida ternura.
Calmaria dos barcos à vela.
Quero sua fortuna;
Que dessa, padeço na Terra.
Loucura, loucura
És a mão insana da perfídia.
E dos loucos, a grande fuga.
Dos poetas, a grande poesia.
Parar tirar do engenho a culpa.
Da vida, és a grande cortesia.
Mas de que adianta
Ter-se valor,
Se não se tem sonho?
Ter-se amor,
Se não se tem brandura?
Ser poeta,
E não ter loucura.