O DIA MÁGICO
Naquele dia não era a chuva e nem o sol
que vinham em nuvens de insetos
e afligiam meu coração em desesperanças;
Não era o terremoto do noticiário
ou a onda que varreu a praia
onde costumava pescar o senhor meu avô;
Não eram os quilômetros de peixes mortos
flutuando na maré negra
de petróleo e fumo;
Não poderia ser o pássaro que queria voar
mas a substância grudava-lhe as asas
causando-lhe a certeza da morte nas presas do tigre branco
Se os tigres brancos não estivessem quase extintos
e suas peles estendidas como carpete na casa do empresário
Definitivamente não era.
Então quem foi se o mundo o mesmo é?
Eu mudei e foi você, oh derradeira mulher
que me fizeste esta augura sem fim
Maior que tudo quanto possa acontecer
inferior e pequeno ao que de mim acontece
o sangue que escorre dos meus pulsos floresce
A flor vermelha e viva que me falaste:
"Vai e planta-a, colhe-a e poderá ficar,
quando tudo passar, com as migalhas de minha ausência..."
Confesso que estão em minhas mãos as tais migalhas
mas tu estava por trás de cada desgraça
conduzindo meu suicídio como se fosse contrato.
Estudas dialética e gramática disseste-me
para que não houvesse erros
na minha última carta.
Só que não escrevi-a, comi-a antes
de cortar os meus pulsos
em nome de tua flor
E quando vieres admirar teu trabalho
encontrará minha alma em outro lugar:
livre de ti e de todo esse mundo.
Restará ainda, para não te preocupares
o contrato sob a mesa e nele tuas migalhas
e tua flor mágica. Só isso.
Por que na balburdia escondi-me
e no inferno que será a vida depois disso
libertei-me e o diabo que te carregue...
Do Livro “Suicídico”