O DIA MÁGICO

Naquele dia não era a chuva e nem o sol

que vinham em nuvens de insetos

e afligiam meu coração em desesperanças;

Não era o terremoto do noticiário

ou a onda que varreu a praia

onde costumava pescar o senhor meu avô;

Não eram os quilômetros de peixes mortos

flutuando na maré negra

de petróleo e fumo;

Não poderia ser o pássaro que queria voar

mas a substância grudava-lhe as asas

causando-lhe a certeza da morte nas presas do tigre branco

Se os tigres brancos não estivessem quase extintos

e suas peles estendidas como carpete na casa do empresário

Definitivamente não era.

Então quem foi se o mundo o mesmo é?

Eu mudei e foi você, oh derradeira mulher

que me fizeste esta augura sem fim

Maior que tudo quanto possa acontecer

inferior e pequeno ao que de mim acontece

o sangue que escorre dos meus pulsos floresce

A flor vermelha e viva que me falaste:

"Vai e planta-a, colhe-a e poderá ficar,

quando tudo passar, com as migalhas de minha ausência..."

Confesso que estão em minhas mãos as tais migalhas

mas tu estava por trás de cada desgraça

conduzindo meu suicídio como se fosse contrato.

Estudas dialética e gramática disseste-me

para que não houvesse erros

na minha última carta.

Só que não escrevi-a, comi-a antes

de cortar os meus pulsos

em nome de tua flor

E quando vieres admirar teu trabalho

encontrará minha alma em outro lugar:

livre de ti e de todo esse mundo.

Restará ainda, para não te preocupares

o contrato sob a mesa e nele tuas migalhas

e tua flor mágica. Só isso.

Por que na balburdia escondi-me

e no inferno que será a vida depois disso

libertei-me e o diabo que te carregue...

Do Livro “Suicídico”

Diego Duarte
Enviado por Diego Duarte em 30/03/2012
Código do texto: T3585049
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