A JANELA

Na máquina do mundo em mim

eu cri, por largos anos,

depois foi tudo enferrujando.

Cadê em mim a máquina do mundo?

Nem máquina nem mundo

nem mesmo mim

que tudo foi errando

até errar de vez por todas.

Hoje o que não é só fica olhando.

Mim, máquina, mundo

ainda aqui e ali umas saudades

todas embaralhadas

como baralho preparado

para jogo sem regras nem parceiros

e no entanto

parece que só mim não joga

- mais um engano

que é tudo engano.

Mim, como tantos, joga

o jogo de não jogar

como tantos, legião.

Não há engano maior, de maior dano

a esse mim, a essa legião de mins

que não sabe o que vê nem o que não

Esse mim que – ai, pobre dele –

ainda se lembra, entre as poucas lembranças,

de que balada é tipo de poesia

esse mim que se queda

de manhã à noite

a olhar a janela.

Na manhã de 18 de março de 2012.