Psicose barroca IV
Antes que tudo isso aqui seja esterilizado,
pela perícia com lupas e luvas de borracha,
há que se contemplar a arte do assassinato,
de minhas alucinações presas numa caixa.
Toque-me, eu sou a chaga.
Cuspa-me, sou a metástase.
Adore-me, sou a aourora.
Invente-me, sou a chuva.
Fuja de mim, e estarei em sua mente.
Corra para mim, e serei a ausência.
Entenda-me, e serei o limbo.
Destrua-me e serei radiação.
Eu vejo o que foi feito das ruas,
o que foi feito das dobraduras,
das esquinas que ocultam futuros,
dos horizontes que revelam rubores.
Antes que a inconsciência de um beijo,
traga a febre a este corpo que retorna,
entrego meu espírito em suas mãos,
à salvo do conhecimento que devora.
Atravesso o mar com a carruagem vermelha,
mar feito de naufrágios e almas quebradas.
E quebrarei sua fé e suas montanhas ,
até que do delírio não sobre mais nada.