Autorretrato delirante
Sou estranho,
dos olhos verdes, cabelos castanhos.
Na adolescência, tive muitas espinhas.
Na infância só brincava com meninas,
hoje, adulto, prefiro brincar com meninos.
Não sou de muitas macaquices,
se muitas vezes não levo um sorriso nos dentes,
não tolero tolices;
a menos é claro, que sejam as minhas!
Descontente, atrevido,
não brinca comigo, porque eu apanho,
mas xingo!
Porém graças a Deus, me arrependo...
Sou carente, quero a liberdade;
almejo tanto uma constelação,
quanto a quietude de um deserto.
Instante, sou incerto.
Tenho ânsias às vezes em cometer um homicídio,
mas tenho pena até de pisar em um inseto.
Persigam-me, joguem-me num calabouço se quiserem.
O tempo encarcerado certamente
torna-se-á um poema.
Atirem-me quantas pedras forem,
um dia cada uma delas
será a página de um livro.
Sou sincero, não tenho inveja.
Sou tão transparente,
que quase ninguém me enxerga.
Torçam-me, partam-me ao meio,
dilacerem-me.
Eu gosto da dor.
Desde que,
ela não me torne tão burro
quanto os meus maus-feitores!