Louco de pedra.
Gritos no escuro pelas frestas de luz.
Um anjo feio e branco me conduz.
Pelas labaredas da teimosia tento persistir na vida, que com a morte a cada dia me brinda.
Rasgos de uma vida sem vida.
Tempo de um tempo sem luz.
Momentos de uma lágrima persistente no meu peito cansado fez morada.
Eu ando sem poder sair do lugar.
Me perco no momento em que me acho, e me encontro nos momentos em que me perco.
Em dias ensolarados o sol não chega até mim.
Porque o sol me manda o calor, mas eu só sinto o frio da dor.
Sim, eu só sinto o frio do desamor.
Louco de pedra: pena que a pedra não é pedra.
Se fosse pedra, meus olhos não choravam.
Deus, queria tanto ser louco, louco de pedra!
Sim, porque as pedras não choram.
Não, as pedras não choram jamais.
Sofro porque sinto.
Eu sinto o mal de um mundo hipocrita, onde reina uma falsa cortesia.
Reino animal onde a ordem é gente destruindo gente: que mundo doente!
Ah, que dor eu sinto nesse peito já dormente!
Mas, Deus, como eu queria ser louco!
Sim, louco de pedra!
Sim, louco de pedra, porque as pedras não choram.
Não, as pedras não choram jamais.
E não, as pedras não sofrem.
E é por isso que eu queria ser um louco: um louco de pedra, para nunca, nem jamais nessa vida, voltar a sofrer.