Febril delírio
Entre tanta reza dita na fraca luz de velas
fiz uma série de divindades de todas elas
pois que toda a imagem divina agora vá: se quebre
e eu volte ao estágio infantil da vida de um menino
é quente este meu corpo e o mundo todo, e alucino
sentindo o inferno térmico que é a fortíssima febre
O delirio faz me achar que um belo coro de fêmeas
do tão comum carnaval corpóreo do sexo abstêmias
afinam o tom de suas vozes dizendo quanto me ama
percebo as falsas amplitudes desse meu louco delirio
olho elas no perfil pétrico uma por uma e de todas rio
pois lembro de cada uma delas recusando minha cama
Quando em volúpias imersas o meu corpo queimou
verdadeiramente vi o animal que fui e que ainda sou
indo roznar ferozmente para a sua incapacitada caça
por instinto, brinquei de te colocar em variadas poses
de submissão, de aparente derrota e teus labios doces
foram a fonte principal do calor que bem aqui abrasa
É assim que eu durmo: cansado, quente
ao duvidar se de fato eu sou inteligente
se tão facilmente cedo a esses meus impulsos
e, assim como é ritmada a batida do coração,
vai se mecanizando os variados atos da mão
quando se torna rigida a estrutura dos pulsos